O Sagrado Masculino – Início

O tema do Sagrado Masculino talvez seja um dos mais negligenciados dentro da Magia e existem várias razões para isso. Entre essas razões, podemos citar a descaracterização e subjugação das essências masculinas dentro da sociedade pós-moderna atual; a hipervalorização e objetificação do feminino e as vantagens de se controlar uma sociedade previamente emasculada, como estratégia de dominação. Mas do que se trata a essência masculina?

Falando diretamente, assim como o Sagrado Feminino existe, seguindo a Lei Hermética da Polaridade, também existem aquelas energias e qualidades que definem os arquétipos divinos masculinos que devem ser trabalhados para se obter o equilíbrio, tanto energético quanto psicológico. Nos tempos atuais, esta Lei Hermética da dualidade de gênero foi pervertida para justificar pautas políticas progressistas por um lado e limitada ao gênero biológico por outro. Ambos os atos erros crassos para aqueles que se julgam adeptos de Magia. Quando falamos em gênero hermético não estamos tratando de sociologia ou sequer da genitalidade que permeia, vulgariza e reduz tudo que é o Humanum a um símio no cio. Estamos falando de questões que vão muito além.

O Sagrado Masculino faz parte da Physis, a ‘Natureza Humana’ e está presente desde o princípio dos tempos, sendo normalmente representado por Deuses e Divindades arquetípicas que nos apontam para as características desta vibração energética, que é presente em tudo e na natureza tanto quanto o feminino. Porém, antes de explicitar tais arquétipos, seria interessante observar alguns pormenores das consequências da anulação e rejeição do Masculino dentro da sociedade atual.

Consequências da ausência do Sagrado Masculino

Inicialmente, como consequências da negativa do masculino, daquilo que é Bélico, Honrado, Poderoso e Criativo por si; damos margem a uma sociedade emasculada. Remove-se de cena atributos necessários como a autodefesa e a valorização do homem, dando margem a graves consequências, como elevado índice de suicídio entre homens, criminalidade excessiva (explicaremos isso a diante), abusos de autoridade, assédios e abusos sexuais, parafilias, dominação social fácil, vulgarização e banalização do sexo, entre muitos outros. A mulher enquanto isso é posta em uma circunstância de ‘sempre vítima’, ‘sempre correta’ e um objeto que deve ser conquistado, um troféu a ser exibido publicamente, intocável e onde o mundo da húbris orbita ao redor, pois o ‘sexo’ é o ato final de recompensa pelo esforço masculino, pois a esfera do prazer permanece com o homem, tendo em vista que a mulher é somente ‘recompensa’. Podemos observar então que as consequências da remoção da esfera masculina são nocivas não somente aos homens, mas também para as mulheres e especialmente para estas.

Mas o porquê destas consequências? É um pouco mais complexo que parece. Cada esfera sagrada, tanto a Feminina quando a Masculina, vibram em uma ‘oitava alta’ e uma ‘oitava baixa’. Ou seja, possuem dois polos, um negativo e um positivo. Um homem que possua seu polo masculino saudável possui qualidades dos arquétipos divinos e sagrados que representam estas energias: Liderança, Raciocínio, Intelectualidade, Etiqueta, Honra, Proteção, Defesa de si e dos seus, desenvolvimento físico, desenvolvimento mental, cultural, Honestidade. Aquele homem que vibra em uma oitava baixa possuirá todos os aspectos contrários a tudo que é o divino masculino.

Porém, a rejeição do Sagrado Masculino acarreta outra consequência pior. Estes homens desprovidos de masculinidade acabam não recaindo na esfera negativa masculina, mas na esfera negativa da feminilidade. É a emoção exacerbada, a incapacidade de lidar com rejeição, o narcisismo, o assédio, o descontrole que resulta em agressividade, o exibicionismo, são atributos negativos das esferas aquosas (água = emoção) que deslocadas de sua vibração transformam estes ‘homens’ naquilo que eles são; animais estúpidos, ‘escravocetas’ rastejantes se auto humilhando por atenção feminina e se tornando violentos ou obsessivos quando não recebem aquilo que lhes julgam ‘de direito’.

É rotineiro vermos exemplos diários disso dentro dos meios esotéricos. Homens que, rejeitados, agridem ou perseguem mulheres, ameaçam até mesmo suas famílias ao ouvirem um ‘não’. Outros são abusadores natos agindo de forma predatória na internet, enviando fotos íntimas não solicitadas e assediando toda mulher pela frente. Curioso que alguns destes figuras afirmam trabalhar com Exu e serem ‘Tatas’ de ‘Tradições’; agindo de modo completamente avesso a seus próprios cultos, uma prova cabal de seus charlatanismos e mentiras espirituais.

Há ainda aqueles que vivem de imagem, de vaidade e necessitam expor mulheres a seu lado para terem alguma autoafirmação.

Todos são claros exemplos de ausência de Sagrado Masculino e de como a feminilidade quebrada e desequilibrada destes homens afeta negativamente seus psicológicos e expõe suas vítimas a um risco real e muito grande.

Arquétipos Masculinos

Para melhor nos situarmos dentro do Sagrado Masculino, podemos observar alguns de seus arquétipos principais, pois nem todos são iguais. A ideia do ‘homem malhado e bombado’ como arquétipo ideal de masculino é somente uma, entre muitas imagens.

Podemos citar inicialmente o Guerreiro. Aquele que se dedica as artes bélicas, ao desenvolvimento corporal, a proteção física. É a figura clássica da divindade Ares.

Há também os Líderes, aqueles que são naturalmente seguidos por seus ideais e sua Vontade Férrea, imagem dos homens de Zeus.

Os Enganadores ou Tricksters, ligados ao intelecto masculino, são os espertos e que produzem as artimanhas. Exu e Hermes aqui se enquadram.

O Eremita, dedicado à sua espiritualidade, um aspecto do sagrado masculino dedicado ao trabalho evolutivo interior, aqueles que se isolam por trás dos véus, tal como Hades.

Muitos são os aspectos da Masculinidade, todos válidos, desde que ela seja sempre trabalhada e desenvolvida, para que o Homem se torne seu melhor através da alquimia interna, ao invés de se render a manipulação social, se subjugar a desvalorização e negar a si para obter vantagens sexuais, mundanas ou profanas que somente lhe acorrentam ao ego e afastam do real objetivo da Senda.

O erro da Atribuição da Vida

É um tabu questionar certos valores atualmente, mas isso sempre deve ser feito. Muito se diz que a ‘magia pertence a esfera feminina porque a mulher gera a vida’; uma insinuação de que ‘homens teriam menos aptidão magica/espiritual’ por não possuírem útero e não menstruarem.

Isso é simplesmente uma mentira.

A vida, como bem sabemos, não surge de geração espontânea no ventre feminino, mas da conjunção de ambos os gêneros, gametas e energias durante o ato da carnalidade. Isso em mente, qualquer afirmação de que um é ‘mais apto’ que o outro é falaciosa. Homens e mulheres possuem igual importância tanto na espiritualidade quanto na Criação da Vida e também em sua finitude. Por isso temos manifestações de divindades enquanto pares e divindades ceifadoras de ambos os gêneros; tal como Qayin e Qalmana.

Reduzir a participação do Homem na concepção é, diretamente, desejar diminuir sua participação também na obrigação da paternidade, que deveria receber tanta importância quanto a maternidade e não ser deixada de lado. As consequências disso, já sabemos nos índices de abandono parental ao redor do país.

Um fato curioso que desmente boa parte dos discursos de que a ‘vida pertence a mulher’ é que a maioria dos povos antigos desconheciam o papel da mulher na fecundação e esta era somente a ‘incubadora’ dos filhos. Ou seja, a ‘semente’ do homem era plantada na mulher, sendo esta semente a vida já concebida. Tal curiosidade pode ser observada em mitos como a geração espontânea de Dionísio do sêmen de Zeus, Afrodite do sêmen de Cronos, Atum-Rá dando origem a outros deuses ao espalhar seu sêmen nas águas primordiais, Seth engravidando de seu próprio sêmen, entre outros.

Esse conhecimento insuficiente e arcaico sobre reprodução humana também gerou leis absurdas, como a masturbação masculina ser análoga ao homicídio, por desperdiçar uma vida, ao longo da teologia manualística da Idade Média.

A mulher era vista somente como receptora e o homem como fecundador. Bem, hoje em dia nosso conhecimento de reprodução e sobre espiritualidade já deveria ser suficiente para explicitar a importância do equilíbrio entre forças masculinas e femininas, tanto no mundo quanto nos microcosmos individuais.

Caska, Guts e Griffith

Algo sobre cultura Pop

Quem acompanha meus textos e livros a mais tempo sabe que eu gosto de ilustrar com imagens culturais algumas mensagens. Neste caso não é diferente. Temos por exemplo de dicotomia entre uma masculinidade saudável e uma problemática os personagens Guts e Griffith do anime/mangá Berserk.

Enquanto Guts exalta sua masculinidade (e não estou falando de corpo físico aqui, se atente a mensagem do texto); Griffith recalca quase tudo que o desagrada em si mesmo e projeta sua inveja sobre Guts. Griffith não sabe lidar, em muitos momentos, com sua rejeição no triângulo amoroso com a personagem Caska e sente-se isolado, apesar de ser o líder de seu grupo. Ao passo que ele percebe a aproximação romântica de sua ex-admiradora e seu melhor amigo, sua homoafetividade (não sexualidade, afetividade mesmo, no sentido literal de afeto) aumenta e ele não sabe como lidar com todos os sentimentos.

O resultado disso é Griffith abandonando seus aspectos ígneos e masculinos e cedendo a oitava baixa de seu lado feminino, ou seja, a emoção alagando sua racionalidade, o induzindo a cometer um erro fatal. Posteriormente ele cede a sua necessidade de vingar-se da rejeição, o que culmina no massacre de seus amigos e no estupro de Caska, uma forma de ‘auto afirmação’ agressiva do que ele pensa ser poder, objetivando justamente humilhar e subjugar os aspectos ígneos de seu antigo amigo e agora antagonista principal.

Para quem não assistiu e deseja compreender melhor essa dinâmica, o anime está disponível na Netflix.

Femto; a ‘Sombra’ recalcada de Griffith manifesta em seus atos hediondos

Concluindo…

Esta postagem, deveria ser claro mas eu jamais subestimo a burrice, não possui intuito de subjugar aquilo que é Sagrado Feminino e que já foi inclusive postado aqui no blog. Visa apenas dar uma breve introdução a um tema que vem sendo negligenciado, renegado e distorcido quando não deveria ser. Os aspectos ígneos e solares da Magia são tão importantes quanto os lunares e aquosos, o oposto disso gera uma feitiçaria aleijada.

Valorizar aquilo que possuímos de melhor dentro de nós não é tentar ofender ou negar o outro. Exceto quando este outro é deficiente em sua moral e ética pessoal.

Talvez eu poste mais sobre este tema aqui, adentrando em pormenores os arquétipos e qualidades do Sagrado Masculino dentro da Magia e do CME especificamente, tratando de algumas potências demoníacas masculinas, como Asmodeus, Ahriman e Pazuzu, por exemplo.

Então, tratem o tema com o devido respeito e importância. Até o próximo artigo.

PHXYAN

5 comentários sobre “O Sagrado Masculino – Início

  1. GA

    Ultimamente tive bastante curiosidade sobre um dos arquétipos citados, o Trickster. Posso estar errado mas ele não seria, entre os arquétipos masculinos, o mais próximo ao feminino, uma espécie de meio termo? Seria ótimo o aprofundamento nos arquétipos que mencionou.

    E se não for perguntar demais, teria alguma referência bibliográfica sobre o assunto do artigo para indicar?

    Enfim, texto ótimo como sempre!

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